quarta-feira, 9 de julho de 2008


joguei pra dentro de mim a rocha pesada
o vento cheio engordando minha alegria
plantei-me gasto no terreno marrom de teus olhos
pois onde fomos crianças restou o escombro
mas não saberão nossos pais imbecis a dor de tudo aqui
não saberá a tarde pardal da nossa fraqueza e do nosso delírio.

após gargalhar por horas decido exausto apoiar o rapaz
decido caminho por onde guia-lo.

joguei pra dentro de mim a sonda ruim
mas teus olhos assombrados sabem a claridade do meu corpo
lancei pra dentro de mim o inseto dessa tarde
túmulo 24
cemitério 24
a cor escura do velório me encanta, como me encanta o que
tem forma boa e coragem de mar
tenho corpo que aprendeu a boa-fé mas prefiro relevar
e temos ainda por cima pais que nos dão comida e teto
mas é como porco que quero entrar na lembrança
mesmo não desistindo
é como morte que pretendo ficar espantado.

prego meus braços ao teu redor.


sê paciente rapaz
sê furtivo e solidário comigo
que nossa árvore é má e nossos frutos ainda bem piores
nossa boca degenerada que arregaça a festa
escorre o mel doente
e nada horror nos é surpresa
nada diabólico nos é perfume

joguei pra dentro de mim o lobo ferido
mas é na feiúra que posso sim confiar
na feiúra do rapaz eu enfim acredito
e eles nada poderão contra mim
eles nada poderão se você estiver com as mãos encostadas em minhas costas
mesmo sem saber te pedir
ai que não compreender tua força é o pior que tenho
mesmo não precisando entender teu rumo quando estou longe
é que eu não consigo empatar teu corpo que quer pregar em outros
é que não sei o que cresce em mim quando é distância
quando nos salvamos
quando berramos de medo e arrependimento.

sê paciente comigo rapaz
que cravo ousadia pra mostrar-te minha dor besta
a dor idiota quando demoras
o que tremo quando quero teu peso e enfraqueço.

sê paciente comigo rapaz
que não entendo por hora o movimento da tua surra.


joguei pra dentro de mim o barco sujo da espera
pra não estranhar quando você sufoca
pra não assustar quando vc me esconde.

espero que sua tinta não acabe agora
espero pintar meu lado esquerdo com tua inutilidade
que é isso que aprendo quando emburaco em tua sonoridade e
alcanço tua voz de sono.


joguei pra dentro de mim tua coragem.
agora permaneço.














3 comentários:

Horla disse...

Foda

Raisa Inocencio disse...

tava com saudade da nossa escuridão.
beijos querido

:-)

Anônimo disse...

Você é genial. Sou um amigo de tito, irei adicionar-te aos favoritos, você é um dos melhores poetas que eu já li, sem dúvidas.