terça-feira, 1 de julho de 2008

josé walter/nenhuma hora

I



rói o vermecida que engoli antes de ti
o veneno primeiro, amor
rói o delírio de chegar em casa
aproveitar o vento estranho da viagem
rói a fala sonífera e a pertinência dos olhos.

arde a comunhão insana da minha infância
arde minhas carnes usadas
o açougue fechado e vermelho
de mim arde tuas bocas derramando línguas.

arde a luxúria e a vontade
o lençol preto e puído
estátua de quatro no meu sonho pobrezinho
ferrolho mole na minha voz

expor todos os orgãos roídos
expor a mortalha do peito solitário audaz
expor o que incandesce o menino comigo


putos e mudos
assustados
perdendo
mostrar o que se acumula nos dentes
a desavergonhada cera bege.


de dias assim queremos o soco e a desordem oca
e como ritual doente ameaçamos o céu com o punho
girando os cabelos em grunhido de hiena.

essa grandeza de impor o queixo é nossa única maneira de ternura
que a de afoito está trancada entre as pernas
entre as virilhas.

nuvens malcheirosas riem de nossos corpos pesados
da nossa experiência com dopados
do nosso criminal auto relevo em quartos pequenos
do dia em que engolimos engasgados o leite plúmbeo do macho


somos velhos como o ar que injetamos
somos velhos e nada aprendemos com a pistola
com a chibata, com a delicadeza nada foi proveitoso.


verruga nas flores e
receber nos lábios uma carícia alta demoníaca
o bode em nossas ancas procriando
e despejamos nossa nojeira na noite felicidade.
pois é tão importante que não lembrem de nós e
é tão importante prosseguir
que tento disfarces;
ornamento que brilhe.


ave! satanás do meu bom coração
desse meu coração ai de suja importância
de feroz
de fúria
de combate/abre os dentes. mostra.
de destreza/abre os mamilos. deita.
de força/abre tuas coxas e inverna


temos violência por todo o rosto
por tudo que se fez rôto
pela nudez fiel de cadela doida
mas arreganha tuas costas e me estrela
e me cai
e me dobra em origame pra que doa.



temos um pássaro inchado habitando nossas bocas.


(eles molham os dedos em nosso mijo
e seguem rumo ao coito.
esperamos
mentimos
sangramos cinza o líquido que presta.)


II


espalhei minhas cartas de paixão na sola da tua casa
e por tua fuga faço atômico meu soro
debute minha busca morta por glória
e o melhor da morte é essa fogueira apagando e acendendo em
nossos olhos
o melhor da morte, criatura, é essa tesoura enfiada aberta em nossas costas
é sugar dos lábios vizinhos o ocre e o poluído.


III


josé walter nenhuma hora é onde vim parar
é onde não consigo mofar nenhuma possibilidade
onde não te trago é exatamente
onde eu desejo que estejas
mas é onde tenho que ficar
me derreter
me velar
me picar de lentidão e falta.

- adormece corpo morto cheio de carrapatos
adormece frangalho de cabeça raspada.

feito adolescente rasgar sorriso pro deslumbre do céu bombástico que vem aí.







má sorte querido josé walter nenhuma hora.
má sorte pra você.

3 comentários:

Marcio Araujo disse...

Seu texto transmite uma violência comum que o humano normalmente quer esconder. Parabéns pela coragem de escrevê-los.

Horla disse...

Fantástico.

Lindo, forte, feroz.

Não posso dizer mais nada.
Amei.

Horla disse...

ps. Coloquei o link do teu blog no meu, espero que esteja ok :)